terça-feira, abril 05, 2005

A mediatização do quotidiano: desde as eleições à morte de um homem vestido de branco

Pois é meus senhores, aqui estou eu, finalmente a postar... o especialista a comentar os comentários dos comentadores... LOL!

Vem a frase a propósito do título da posta... É que já há algum tempo que prometi uma posta sobre as eleições legislativas, mas no entanto passou-se já algum tempo e entretanto foram dando forma aos cabeçalhos de jornais e leadings de TV acontecimentos mais relevantes ou mediáticos (como agora se vai dizendo...), que desviaram a atenção dos comentadores e dos gajos que como eu comentam sobre a opinião dos comentadores (tento pelo menos não ser seguidista em relação a nenhum que exista na praça!).

Mas o traço comum a todos os fenómenos que se julgam importantes e que inclusivamente me permite efectuar o meu presente exercício é o seu veículo de transmissão: o sistema mediático... e isto passa-se quer em relação às eleições legislativas e respectiva campanha eleitoral, quer em relação à recente morte do papa ou a outros assuntos que os media decidam dar atenção.

Vou-me dedicar a analisar as eleições e a recente morte do papa, tendo em conta este fenómeno fascinante e avassalador.

Em relação às eleições e respectivas campanhas dos diversos partidos, não me lembro de campanha mais distante do contacto directo com os eleitores... foi tudo planeado e executado tendo em conta o plano das câmaras de TV e existência de microfones da rádio. Naquela que considero a minha santa terra, que é só a freguesia com mais crescimento populacional entre os Censos de 91 e os de 01 – Quinta do Conde – vi muito pouca gente “graúda”. O fenómeno dos sacos de plástico e das canetas BIC travestidas de logotipo de partido político desapareceu... Mas ao contrário daquilo que eu desejaria, não desapareceu para dar lugar a um debate mais profundo entre eleitores e eleitos... desapareceu simplesmente!!! Foi substituído por directos de TV e apontamentos de reportagem, filtrados mais uma vez pelos meios de comunicação do sistema mediático.

O PS, partido mais eficaz na gestão do relacionamento com o meios de comunicação, passou uma imagem de extrema eficácia, pois Sócrates ganhou com uma margem sem discussão. A estratégia utilizada produziu os resultados desejados!

No entanto, custa-me ficar convencido: o discurso igual noite após noite, apenas com uma pequena variação inicial dependendo da região onde se encontrava. Depois, o tradicional soundbyte e frase feita para marcar profundamente uma mensagem indelével nas frágeis mentes dos eleitores!

Paradoxal, foi a mudança de registo após as eleições, com a formação do governo e já neste período de governação: homem de estado, gerindo com igual eficácia o fenómeno mediático. Os silêncios e descrição como mil palavras! Nesta cadeira, Sócrates passa com distinção! Resta saber se no concreto, no plano da acção governativa vamos ver a mesma eficácia e os mesmos resultados.... E, se entretanto, a relação entre eleitores e eleitos se aproxima ou se afastará ainda mais, tendo o fenómeno mediático frio e distante como intermediário e quase único canal de comunicação.

Igual eficácia demonstra o Vaticano na relação mediática que estabeleceu com crentes e não crentes na gestão do acontecimento mundial do ano 2005 (pelo menos até à data): a morte do Santo Padre.

João Paulo II é, indiscutivelmente, uma figura marcante do séc. XX.

Para além disso, a gestão que fez da sua imagem nos últimos anos de papado, trouxe para a ribalta do fenómeno mediático, o sofrimento de um homem no desempenho do seu desígnio na Terra. O facto ter cultivado a ideia de homem comum (fazia Ski, foi actor...) – a que não será alheio mais uma vez a promoção mediática desses factos! – deu mais força à sua convicção no final de vida: que o homem comum se pode transcender por uma causa!!! Neste caso, a sua causa religiosa... admiro-o por isso e não é com certeza um feito de um homem comum!

Já a gestão que é feita sobre a sua morte parece-me mais despropositada: dizem os comentadores que se recupera a tradição da morte no seio familiar e não a morte asséptica e de má memória em cama de hospital... que foi essa a mensagem que se quis passar... pois, agora a minha dúvida é se a morte ligada a sofisticado equipamento médico em meio hospitalar é melhor ou pior que o conceito de morte quase em directo com holofotes, câmaras de televisão e ecrãs gigantes na praça de S. Pedro! O drama é com toda a certeza maior na segunda hipótese.